HomeTOP DESTINOSAventuraRio adentro Rio adentro A canoagem envolve técnica, coragem, companheirismo e, principalmente, respeito à natureza POR Hamburger, Edição: Claudia Berkhout 5 MIN A imagem de um rio serve às mais diversas metáforas, provérbios e comparações com nosso dia a dia. Há várias razões para isso, como a conexão com o tempo que não volta, a mudança corrente em nossas vidas, a alternância de momentos tranquilos e turbulentos, quedas e remansos. Mesmo assim, é difícil evitar o encantamento com o poderoso fluxo de água que podemos encontrar na natureza. Ainda mais se a água for limpa. Em tempos em que enfrentamos situação crítica em relação à água do planeta, o crescente interesse pela canoagem não se dá por acaso. Também não deixa de ser curioso que as regiões de Extrema e Socorro sejam pontos altos para os praticantes do esporte. Na realização desta matéria, numa espécie de expedição, fomos literalmente rio adentro acompanhar um grupo de profissionais para compreender um pouco mais dessa prática que envolve técnica, coragem, companheirismo e, principalmente, respeito à natureza. Uma bela estrada de terra acompanha o Rio Jaguari entre as cidades de Camanducaia e Extrema, em Minas Gerais. Suas águas abastecem o sistema Cantareira e servem de palco para os praticantes da canoagem. Ali, no Bar do Régis, espécie de base informal para aqueles que se aventuram pela natureza local, encontramos uma turma de especialistas: Caio, Luís Guida, Moisés, Tista e Leandro. Para nossa surpresa, um pequeno cão, o Hércules, não titubeou em acompanhar nossa expedição, ora correndo pelas margens, ora dentro do caiaque. Caio Moreno coleciona vários títulos de campeão brasileiro e pan-americano em diversas modalidades da canoagem e já participou de diversas experiências internacionais. Diz ele com a simplicidade de quem conhece o assunto: “A canoagem é onde me sinto à vontade, onde esqueço os problemas e renovo todas as energias. Assim eu não curto a natureza, eu faço parte dela…” Com traçado sinuoso, o Rio Jaguari oferece trechos tranquilos e corredeiras mais acentuadas até quedas bastante radicais. Usando um termo bastante difundido no surfe, tivemos o privilégio de conhecer o Rio Jaguari em um dia épico. As chuvas do verão, além de aliviar o sistema hídrico, aumentaram o grau de dificuldade técnica da canoagem, e nosso time aproveitou a ocasião. Se numa primeira impressão a canoagem pode parecer um esporte individual e solitário, o que aprendemos com essa turma é o oposto: a segurança de cada um depende da confiança total no outro e na prontidão em tomar medidas radicais de apoio e socorro. Além, é claro, de discutir os melhores trajetos, ajudar a carregar o equipamento morro acima e celebrar as manobras bem-sucedidas. Luiz Guida, também conhecido por Animal, é tetracampeão brasileiro de stand-up paddle e educador físico. Companheiro frequente do Caio nas descidas, valoriza os momentos de conexão com a natureza e a concentração no que vem pela frente: “Na corredeira, a cada trecho percorrido preciso focar no que vem adiante, em como negociar a passagem, com escolhas e reflexos rápidos em concentração total. Caiaque representa liberdade, diversão, desafios e muita adrenalina”. Em nossa aventura, Leandro Ramos fez a segurança dos canoístas e do fotógrafo que vos escreve. Pronto para agir rapidamente, com cordas e boias, Leandro, natural de Camanducaia e experiente guia de turismo e de esportes radicais, é um praticante entusiasta da canoagem. Moisés Crescente e Tista Dourado, respectivamente diretor e coordenador da Radix, empresa de passeios e aventura sediada em Extrema, são grandes conhecedores do Rio Jaguari. “O Caiaque é a busca contínua de uma sinergia entre o querer, o poder e a conquista. A cada dia uma descida diferente com uma sensação diferente”, diz Moisés. Além de promover passeios em estilo família, são os primeiros a desafiar as passagens mais radicais, batizadas com nomes bastante sugestivos. O Expresso impressiona pela quantidade e velocidade da água em um desnível considerável de alguns metros. Já o Salto Grande é o ápice de nossa expedição. Equivalente a um prédio de cinco andares, seus 15 m de altura, numa queda só, separam os praticantes dos profissionais, para não dizer os sensatos dos insanos. Ao final da descida, todos ali, inteiros e a salvo, concordam que a chave fundamental para percorrer essa estrada fluida e dinâmica está em avaliar e escolher o melhor caminho, a chamada linha, além de ter coragem e jogo de cintura para reagir ao imprevisto. Uma descrição da canoagem que carrega evidente semelhança com nossas vidas.