HomeTOP DESTINOSRoteiroCaminhando sobre as camadas de Istambul Caminhando sobre as camadas de Istambul Com um pé na Ásia e outro na Europa, a cidade encanta pela singularidade da sua silhueta pontilhada de minaretes, pela brisa que sopra no Estreito de Bósforo, pela cena vibrante e por toda essa mistura dos dois continentes POR Claudia Liechavicius, de Istambul 6 MIN Alheio ao movimento, o sol mergulhava sem pressa no horizonte, enquanto o vai e vem agitado das embarcações riscava o Estreito de Bósforo e o chamado do muezim (encarregado de anunciar as orações) ecoava dos minaretes anunciando mais uma oração do dia. Pisar em Istambul é sempre uma festa para os sentidos. Impossível ficar indiferente aos seus contrastes. Um pé na Ásia, outro na Europa e os dois plantados sobre muitas camadas de uma rica história. Do DNA europeu herdou a modernidade, o astral cosmopolita, a paixão pelo futebol. Já a tradição, a força cultural, a crença no islã e os aromas que exalam (e a veia negociante) dos mercados vêm do lado asiático. É a única cidade do mundo dividida entre dois continentes. Um cruzamento que tem tudo para agradar. Tanto que Istambul costuma figurar, ano após ano, entre as dez cidades mais visitadas do mundo. E foi exatamente ela uma das primeiras a permitir a entrada de turistas brasileiros nessa retomada, depois do período de isolamento imposto pela Covid-19. Por ser a maior cidade da Turquia, com uma população de mais de 15 milhões de pessoas, é fácil supor que Istambul seja a capital do país. Mas não é. Em 1923, foi transferida para Ancara, ao ser estabelecida a República Turca. Porém, já foi a capital durante os Impérios Bizantino e Otomano, quando se chamava Constantinopla. Eis a prova de que Istambul testemunhou a marcha de grandes civilizações. Como dizem por lá, tudo começou alguns séculos antes de Cristo, quando um certo rei consultou o Oráculo de Delfos e seguindo a profecia, conduziu seu povo àquelas terras. Nasceu um pequeno vilarejo com o nome de Bizâncio, que (para nossa sorte) só fez crescer. Caminhar pelas ruas de Istambul é a certeza de se surpreender com um tremendo legado. Parte das muralhas que protegiam a Cidade Velha, no bairro de Sultanahmet, ainda fazem a imaginação voar. Ali ficava o famoso Hipódromo, que já não existe mais. Há apenas um antigo obelisco marcando ponto na história. O Hipódromo era o grande epicentro dos festivais do império e comportava até 100 mil pessoas. Hoje, resta sentar-se na Praça do Sultão Ahmet e ficar imaginando a multidão torcendo por suas quadrigas (um tipo de carroça) favoritas, enquanto as carroças puxadas por quatro cavalos davam voltas na pista de corrida. Alguns passos e você estará diante de dois grandes símbolos de Istambul: a Basílica de Santa Sofia e a Mesquita Azul. Santa Sofia é o principal marco de conexão entre os Impérios Bizantino e Otomano. Construída como catedral pelos bizantinos, ela se impõe no centro histórico desde 537 d.C. Sua cúpula tem impressionantes 30 metros de diâmetro e quase 60 de altura, um desafio aos conhecimentos de engenharia da época. Em 1453, com a tomada de Constantinopla pelo Império Otomano, foi convertida em mesquita e seu domo rosa passou a conviver com quatro grandes minaretes, diferentes uns dos outros. Em 1934, a catedral-mesquita foi transformada em museu exibindo lado a lado símbolos das duas religiões e, se tornou Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Recentemente, no final de julho, por iniciativa do presidente da Turquia, Recep Erdogan, a Santa Sofia voltou a funcionar como mesquita. Saindo dela, atravesse a rua e desça aos subterrâneos da Cisterna da Basílica. Num cenário a meia-luz, nada menos do que 336 colunatas romanas em diferentes estilos se revelam entre tons alaranjados e reflexos na água. A cisterna Yerebatan Sarayi foi construída no século VI, com paredes de mármore e abasteceu a cidade até a queda de Constantinopla. Tem uma atmosfera tão misteriosa que até James Bond circulou por lá. Ao retornar dos recônditos da cisterna, tome o rumo da rua Divanyolu Caddesi e experimente a iguaria nacional. Os doces turcos da Hafiz Mustafa merecem entrar no seu roteiro. Os baklavas são uma tradição. Eles são feitos com uma massa folhada muito fininha, recheados com nozes moídas, pistache ou avelãs, e regados com mel. Divinos! E se der fome enquanto você estiver pelo Centro Antigo experimente os kebabs do Sehzade Cag Kebab, um lugar simples e tradicional. Para curtir o pôr do sol tendo a silhueta não só da Santa Sofia, como também da Mesquita Azul, vá ao rooftop do hotel Seven Hills. O restaurante em si não é a atração máxima, e sim o visual. Faça reserva antecipada! A Mesquita Azul tem uma história bem interessante. Ela é a única do mundo com seis minaretes. No entanto, Meca também tinha seis minaretes e nenhuma outra mesquita poderia ser igual ou superior a ela. Foi quando o Sultão Ahmet resolveu financiar a construção de um sétimo minarete em Meca. Simples assim! E lá está a Mesquita Azul desde 1609, com seus seis improváveis minaretes, ao redor de uma cascata de domos e com o interior revestido por milhares de azulejos Iznik azuis, que deram origem ao nome da mesquita. Como deu para perceber, os principais marcos históricos de Istambul ficam próximos entre si, na Cidade Antiga, do lado europeu: Santa Sofia, Cisterna Yerebatan Sarayi, Obelisco da Praça Sultanahmet onde havia o Hipódromo, Mesquita Azul, as belíssimas mesquitas de Solimão I e Eminönü e, claro, o Palácio dos Sultões. Por mais de 400 anos, entre os séculos XV e XIX, devassos sultões otomanos viveram de modo luxuoso, com suas esposas, filhos, eunucos e centenas de concubinas no Palácio Topkapi. O complexo ocupa uma grande área às margens do Bósforo. Além de seus suntuosos salões, jardins e harém, guarda relíquias como o Cajado de Moisés e a Espada de Davi, tidas como autênticas. Para aproveitar a vista linda da cidade, vale almoçar no restaurante Karacol, dentro do Palácio Topkapi, onde antigamente ficava o posto da guarda. Ainda dentro desse raio, não pode faltar um passeio pelo Grand Bazaar. São milhares de lojas nesse mercado icônico, um “pai do shopping center”, inaugurado em 1461 e que ainda hoje movimenta o comércio de Istambul. Por seus corredores labirínticos você encontra o que imaginar, de olho turco a tapetes, passando por especiarias, jóias, tecidos, roupas, luminárias, bolsas, cerâmicas, chás… e até restaurantes. Saiba que é mandatório pechinchar. Faz parte do jogo. Mas, se preferir um local mais badalado para ir às compras, opte pelo luxuoso bairro de Nisantasi e bisbilhote as vitrines da rua Abdi Ipekçi, uma das principais ruas de comércio. Vale atravessar a Ponte de Gálata e ir do Centro Antigo até o charmoso e boêmio bairro de Beyoglu. O trajeto é parte do programa. Pescadores tentam a sorte jogando seus anzóis sem se abalar com o movimento caótico. Encare as ladeiras do bairro e suba até a Torre de Gálata. Mesmo tendo sido construída em 1348, continua sendo o destaque do skyline. Seu terraço panorâmico merece uma visita. Se a ideia for almoçar em Beyoglu, considere o Mikla, conhecido pela cozinha turca contemporânea, e o badalado italianinho Cecconi’s. Para fugir do caos do trânsito os barcos são a melhor alternativa. O Estreito de Bósforo faz a ligação do Mar Negro ao Mármara e serve como elo de conexão entre Europa e Ásia. Tome uma balsa e rume para o descolado bairro de Kadiköy, do lado asiático. Se perca pelas ruas cheias de lojinhas, cafés e muita street art. De dia, o movimento maior fica por conta dos mercados e de noite é a vez da boemia. Para curtir Istambul como a cidade merece, escolha um hotel elegante às margens do Bósforo, conectado com a história e com a cultura local. No bairro de Besiktas ficam alguns dos melhores da cidade. Os clássicos Ciragan Palace Kempinski e o Four Seasons Bosphorus ficam quase lado a lado. O Ciragan Palace ocupa o prédio de um antigo palácio otomano. Seu jardim e sua piscina são espetaculares, especialmente ao pôr do sol, e o brunch tem fama de ser o melhor da cidade (inclua aqui o melhor baklava da vida!). O Four Seasons Bosphorus também fica num palácio histórico e seu spa é ponto altíssimo. Fazer um “hammam”, o famoso banho turco, é obrigatório. O ritual combina sauna, banho de espuma, esfoliação, massagem e hidratação. Uma experiência e tanto, para sair de Istambul de alma lavada. Aliás, uma vez em Istambul, enfeitiçado para sempre! Pela singularidade da sua silhueta pontilhada de minaretes, pelo chamado metálico do muezim convocando para as tantas preces diárias, pela brisa que sopra no Estreito de Bósforo, pela cena vibrante, pelos sabores que misturam Ásia e Europa, pelas tantas camadas de história e pelos tons alaranjados do céu em despedida. Tudo isso em um único destino. Istambul é paixão na certa. Dicas quentes Como chegar A Turkish Airlines é a única companhia que oferece voo direto de São Paulo a Istambul. Outras opções com escala incluem Latam, Qatar Airways e British Airways. Quando ir A melhor época para conhecer Istambul é no verão, nos meses de junho, julho e agosto, quando as temperaturas são amenas e o clima é muito agradável. Documentos Brasileiros não precisam de visto para permanecer por até 90 dias na Turquia. É necessário apresentar passaporte com validade de seis meses. Onde ficar Çiragan Palace Kempinski kempinski.com Four Seasons Bosphorus fourseasons.com/bosphorus Onde comer Hafiz Mustafa tem doces turcos maravilhosos. Experimente os divinos baklavas. Sehzade Cag Kebab, no Centro Antigo, é um lugar simples e tradicional que oferece kebabs. O rooftop do hotel Seven Hills vale mais pela vista do que pela comida. Faça reserva antecipada pois é concorrido. O restaurante Karacol, dentro do Palácio Topkapi, tem vista linda da cidade. No bairro de Beyoglu, considere o Mikla, conhecido pela cozinha turca contemporânea, e o badalado italianinho Cecconi’s. Ulus 29, restaurante sofisticado em Besiktas. Sunset Grill & Bar, cozinha mediterrânea com vistas incríveis do Bósforo Lacivert, restaurante descontraído às margens do Bósforo, do lado asiático.