HomeTOP MagazinePessoasPerfilZeeba Zeeba Depois de estourar com as músicas Hear Me Now e Never Let Me Go, lançadas em parceria com DJ Alok e Bruno Martini, Zeeba quer mostrar para o mundo quem realmente é POR Marina Monzillo - Fotos Miro 7 MIN O Zeeba é cantor? É DJ? É americano? É brasileiro? A legião de fãs do artista cresceu vertiginosamente nos últimos anos, mas uma certa confusão se manteve. Compositor e cantor de Hear Me Now e Never Let Me Go, sucessos eletrônicos que tomaram conta das pistas, festas e, mais recentemente, das salas de estar pelo mundo, Zeeba frequentemente era confundido com o DJ Alok, seu parceiro, junto com Bruno Martini, nesses hits. Filho de brasileiros, Marcos Lobo Zeballos nasceu há 27 anos em San Diego, nos Estados Unidos, mas logo veio para São Paulo, onde cresceu. Retornou à Califórnia para estudar música por cinco anos, aos 18, quando começou, de fato, a carreira musical. Apesar de ter estourado no universo eletrônico, cantando em inglês, ele se declara brasileiro e é no violão e nas letras reflexivas que residem sua essência como artista. A busca por esclarecer essas dúvidas não é apenas para o público, se tornou uma jornada pessoal para Zeeba. Ao viver o frenesi de ter suas composições cantadas por enormes plateias em shows pelo mundo e ouvidas por milhões de pessoas nos serviços de streaming, Zeeba sentiu que, em determinado momento, perdeu o foco. A retomada aconteceu este ano, ao lançar o disco solo Reset, com faixas acústicas – uma delas, Tudo Que Importa, em português. Em entrevista à TOP Magazine, o jovem artista conta como a música tem sido, desde a infância, sua terapia para lidar com momentos difíceis, comenta também a sensação de ser autor de hits mundiais e qual é seu propósito na vida: “Procuro ser feliz e, com a música, fazer as pessoas sorrirem e refletirem”, resumiu ele. Como tem sido 2020, este ano tão atípico, para você? Comecei lançando um álbum acústico, chamado Reset, que traz a minha primeira música em português, Tudo Que Importa. Fizemos um clipe no começo da quarentena, quando ainda não precisava usar máscara nas gravações, mas foi um vídeo que fez todo sentido neste ano. A música fala sobre ter alguém para compartilhar os momentos, e muita gente tem sentido falta disso. Quando a gente perde, realmente dá valor. Reset é uma palavra que passa a ideia de recomeço, é isso que o novo trabalho significa? É um álbum para tirar as dúvidas. Como eu vinha de muitas parcerias eletrônicas, estava rolando uma confusão: o Zeeba é cantor? É DJ? É americano? É brasileiro? Quis mostrar que todas as minhas músicas começam na voz e no violão. O álbum tem os hits conhecidos na versão eletrônica, como Hear me Now e Never Let Me Go, na versão acústica. Este ano você também lançou uma música com a Manu Gavassi, como se deu essa parceria? Nesse processo de mostrar quem é o Zeeba, fui atrás de colaborações com cantores, não mais com DJs. Eu e a Manu começamos a compor Eu Te Quero em dezembro passado. Foi engraçado, estávamos nos últimos passos, e ela sumiu. A gente pensou: “será que ela deu para trás, não gostou?” Depois entendemos que ela tinha ido para o BBB (Big Brother Brasil) e foi até bom para a música, porque a Manu ganhou uma nova audiência, muita gente que não a conhecia passou a conhecer. Então, a música teve um lançamento mais forte, muito mais pessoas escutaram a nossa arte. A gravação do clipe ficou para depois do BBB? Sim, foi bem diferente, feita com todas as medidas de segurança. Só tinha o diretor e um de nós na sala. Para aparecermos na mesma cena, usamos espelhos, uma forma artística para conseguir atender ao distanciamento social. O resultado ficou lindo. Recentemente, você foi convidado para fazer uma palestra no TEDx São Paulo, como foi a experiência? Eles queriam que eu contasse como é ser autor de um hit. Não é “fiz uma música, explodiu e deu tudo certo”. Tem todo um caminho. Eu entrei na música para ser aceito, em uma época em que mudei de colégio, na 6a série. Sofria muito bullying, não era muito de revidar, era inocentão, e a galera pegava no meu pé, me zoava. O colégio tinha um estúdio de música e comecei a me refugiar lá. Sempre gostei de tocar guitarra, compus minha primeira música aos 14 anos. Aí virei o cara da banda. Quando a música virou profissão? No colegial, fiz estágio de seis meses em uma produtora de jingles e gostei. Existe um preconceito com quem vive de música, acham que não é profissão, mas meu pai [o médico Roberto Zeballos] sempre me apoiou. Ele escreveu um livro, Desejo, Logo Realizo, que fala de acreditar e materializar. Ele me dizia para eu fazer o que me deixava feliz e fazer bem, o dinheiro seria consequência. Eu me joguei, fui para Los Angeles fazer um curso de music business e produção musical. Lá montei minha primeira banda profissional, juntamos o pessoal da faculdade e fomos super bem, fizemos show pelos EUA e ganhamos um Grammy. Por conta de brigas internas, a banca acabou. E isso foi um baque para mim, fiquei deprê e me questionei de novo: “será que vou fazer música mesmo?” Um professor tinha me falado que quem não estoura até os 25 anos, não estoura mais. Estava com 22 anos e me sentia velho. Voltei ao Brasil para passar um tempo e conheci o Bruno Martini. Foi aí que compôs Hear Me Now? Hear Me Now tem uma coisa inexplicável. Eu estava nesse momento tenso, queria botar para fora. A letra é uma mensagem para mim mesmo, de que tudo iria dar certo. Compus uma versão mais acústica, mais indie. Quando o Alok ouviu, amou, me ligou e disse que queria produzi-la comigo. Eu, Bruno e Alok botamos uma energia ali, acreditamos mesmo. Saiu em menos de um dia. Lançamos, e o primeiro show foi horrível (risos). O som estava ruim, fiquei nervoso, cantei mal. Era uma plateia de 300 pessoas. O segundo já foi para 60 mil. Dali em diante foi muito rápido. Depois de Hear Me Now e Never Let Me Go, nosso segundo hit, veio outra fase difícil para mim. Foi muito louco, eu tinha um monte de música no topo, era gratificante, mas quando você tem músicas com mais de 400 milhões de plays no streaming, esse parece ser o normal. Atingir menos que isso dá a sensação de não estar indo bem. Foi complicado para a minha cabeça. Seu jeito de lidar com momentos difíceis é fazer música? A música é sempre uma forma de autoterapia. A família também me ajudou muito, converso muito com eles. Hoje dou ainda mais valor para isso. Hear Me Now nasceu dessas conversas de pai para filho, meu pai dizia: “relaxa, vai dar tudo certo”. A letra de Living the Moment, que está neste meu projeto solo atual, fala sobre viver o momento e aproveitar cada segundo, porque a gente fica comparando com o passado e angustiado com o futuro. Precisa é viver o presente. Cheguei a conclusão que não faço música apenas para os outros, estou fazendo uma arte por mim, da forma mais honesta e verdadeira possível. Foi algo que no meio do caminho ficou meio perdido, mas agora, de novo, estou focando na minha essência, nessa fase nova “Zeeba por Zeeba”. Tem sentido falta da multidão dos shows, da grande aglomeração ao redor de sua música? Quando estávamos fazendo shows pelo mundo todo, em todos os lugares que a gente chegava, as pessoas sabiam cantar Hear Me Now inteira. Era muito louca essa sensação de se sentir em casa independentemente de onde se está no mundo, do palco ser a nossa casa. E Never Let Me Go surgiu assim. Em uma conversa com o Alok, enquanto estávamos na China, quisemos fazer uma música que, na primeira vez que tocasse em um show, as pessoas conseguiriam cantar com a gente. É muito interessante ver isso, é uma conexão incrível. Você escuta as vozes, é muito especial. Estou sentindo falta. Mas enquanto não tem show, vou lançar mais singles, o próximo chama I Got You. Você se identifica mais com jeito brasileiro ou americano? Eu me considero brasileiro, porque fui criado, fiz colégio aqui, falando português, e meus pais são brasileiros. Vivo e convivo aqui. Já o inglês está enraizado em mim, nas minhas influências, fez parte do meu aprendizado musical. Sempre gostei muito de bandas americanas e minha formação foi nos Estados Unidos, minha primeira banda profissional foi lá. O processo de fazer música em inglês e português é diferente? O inglês é mais natural para mim, sai mais fácil, às vezes, vou improvisando, fazendo a letra na hora. A língua portuguesa é mais difícil de não soar brega, clichê, bobo. Depois que eu faço a melodia, é um processo diferente, mais longo. Mas estou numa onda de misturar inglês e português. O refrão em inglês, às vezes, tem uma pegada bem única, dá para brincar com isso. Virão mais músicas em português e inglês. Seus sonhos de vida se realizaram? O que ainda deseja fazer? Desde a minha primeira banda de colégio, eu fechava os olhos e imaginava uma multidão cantando comigo. Era minha onda, ficar viajando, sonhando. Quando aconteceu de fato isso, foi uma sensação muito boa. Faço muito isso, quando estou correndo ou no banho, fecho os olhos e mentalizo. É meio a minha religião, pedir as coisas para o universo, para Deus. Às vezes, a gente tem de quebrar barreiras, as limitações que a sociedade impõe. Aquele ditado “não sabia que era impossível, foi lá e fez”, faz muito sentido para mim. Meu estilo de vida é sempre ir atrás de ser feliz todo dia, ficar contente com o que eu faço. Isso deveria ser uma regra para todos.