O topo da Europa, de moto

Partindo de Londres, passando pela Riviera Francesa e Italiana e chegando até o belo Mont Blanc, uma jornada sobre duas rodas para acelerar e lavar a alma

POR marcelo leite MIN

Minha última aventura começou em Londres. Explico melhor: nós mantemos uma base de apoio na cidade. Aproveitamos que temos família por lá e temos há anos uma pequena estrutura de escritório, garagem e, o mais importante, uma moto! Muitas vezes é de lá que saímos para rodar pela Europa, África ou Ásia.

Ao final de 2020, eu troquei minha antiga Honda AfricaTwin por uma novíssima CRF1100L AfricaTwin Adventure Sports. Branca tricolor, linda! A vontade de rodar era imensa, mas com várias fronteiras fechadas e meus planos afetados pela pandemia, só consegui algumas semanas para rodar pela Europa. Yoann, um amigo francês, já vinha me convidando há tempos para andarmos pelos Alpes e o miolão da Europa. E lá fui eu…

Ainda estava escuro quando liguei o motor. Adoro sair cedinho, mesmo com o frio mais intenso. Fui pela M20 até o porto de Dover. Pelo Eurotúnel, embarquei com a moto em um vagão de trem que segue por baixo do Canal da Mancha até o lado francês. São apenas 40 minutos. Burocracia zero. Tudo rápido e tranquilo.

Dali foram mais 900 km com uma chuvinha intermitente e um frio que me fizeram pedir alguns chocolates quentes pelo caminho. Ao anoitecer, cheguei na vila de Yvoire, que fica à beira do Lago Léman, mas do lado oposto à Genebra

O Yoann estava me esperando e fomos saborear um “Gratin Savoyard”, jantar dos Deuses! Acertamos os detalhes para começar nossa jornada.

Só na manhã seguinte percebi como Yvoire é linda! Colorida, cheia de construções medievais, ruelas e ladeiras à beira do Lago.

Saímos em direção à “Route de Napoleon”. Relativamente recente, para os padrões europeus, essa estrada liga os maiores picos dos Alpes até a costa mediterrânea. Na verdade, há um emaranhado de estradinhas vicinais de montanha, que nos levam a vales, um mais lindo que o outro. E, claro, a rota é adorada e venerada pelos motociclistas europeus!

Vamos o tempo todo alternando paisagens de montanhas, picos nevados, vilarejos com casinhas de pedra, vales como no cinema e muitas curvas de puro prazer. É impossível não parar mil vezes. Não é só pela beleza dos lugares ou as fotos obrigatórias. É como se já soubéssemos que tudo nessa região é muito especial. Paramos em um produtor artesanal de queijos e em um de frios derivados de suínos. Nesses lugares, a culinária tem um jeitão rústico, mas não se engane, é tudo de primeiríssima qualidade. E, obviamente, tudo é acompanhado dos melhores vinhos e dos pães mais deliciosos. Afinal, estamos em plena França!

Ficamos hospedados em pequenos hotéis de montanha. Charme e bom gosto em cada detalhe! De lá, seguimos pelas “Gorges du Verdon” em direção à famosa Provence. Agora, temos curvas de todo tipo, penhascos e trechos espremidos contra paredões de rochas. Uma sequência de cânions, rios e lagos de montanha e alguns vilarejos medievais. O ocre das rochas se alterna com o colorido dos campos de lavanda, formando um cenário maravilhoso. É um pequeno paraíso!

Por aqui, hospedagens e culinária são quase sempre de alto padrão, mesmo nos lugares isolados.

É impossível não fazer uma bela pausa em Grasse, a capital mundial do perfume. Caso tenha lido o livro (ou visto o filme) “O Perfume”, é ali mesmo que tudo se passa! Dizem que dos quase 400 “Nez” (literalmente “nariz”, designação dada aos especialistas nas essências da indústria dos perfumes) que existem no mundo todo, aproximadamente 300 estão na pequena Grasse. Isso nos dá a dimensão da sua importância no mundo dos perfumes.

 

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