HomeTOP CARROSMáquinas em Desintegração Máquinas em Desintegração Imagens produzidas pelo fotógrafo suíço Fabian Oefner simulam a explosão de carrões POR Kike Martins da Costa - Fotos Fabian Oefner 4 MIN As imagens produzidas pelo fotógrafo suíço Fabian Oefner exploram as fronteiras entre tempo, espaço e realidade. Em seu estúdio, a 100 km de Nova York, na cidadezinha de Danbury, no estado de Connecticut, ele cria momentos ficcionais que parecem absolutamente reais, só que nada ali é exatamente o que se observa à primeira vista. Ao abrir e dissecar carrões como Ferraris, Porsches, Bugattis e Mercedes na série “Desintegrating”, ele monta digitalmente imagens que se assemelham a explosões e revela como essas máquinas são por dentro. “Minha ideia era capturar o exato momento em que um carro explode, só que, na verdade, esse momento nunca existiu”, resume Oefner. “Sinto um prazer único e inexplicável ao construir artificialmente um momento. Ter o poder de congelar o tempo, para mim, é algo fascinante e entorpecedor”, completa. Seu trabalho metódico exigiu que cada peça fosse fotografada individualmente, uma a uma, das maiores molas aos mais diminutos parafusos, para depois ser posicionada na tela do computador numa escalafobética composição que geraria essa impressão de desintegração, de desmontagem acontecendo na frente dos olhos de quem a observa. Cada foto é, na verdade, uma montagem composta por centenas de outras imagens meticulosamente produzidas. “Cada peça tinha de ser clicada numa perspectiva exata, para que ficasse perfeita na hora de formar a imagem final. Isso deu um trabalho enorme, e muitos desses componentes tinham de ser suspensos por agulhas, fios de nylon e cola para que a gente pudesse retratá-la da maneira correta”, conta o fotógrafo. Os primeiros trabalhos da série “Desintegrating” foram realizados nos anos de 2012 e 2013, a partir de miniaturas de modelos icônicos com o Mercedes-Benz 300 SLR Coupe 1954, Jaguar E-Type 1964 e Ford GT40 1969. Apesar de altamente inovadoras e impactantes, as imagens não resistiam a um olhar mais cuidadoso, que permitia notar que alguma engrenagem ou algum rolamento estava fora de escala. A exceção a Ferrari 330 P4 1967, cuja composição (ou melhor, decomposição) transmitia uma incrível sensação de realismo. “Na primeira vez que exibi essas fotos, a maioria das pessoas acreditava que as imagens haviam sido registradas por uma câmera com um obturador absurdamente veloz. Mas a realidade é que o meu trabalho é exatamente o oposto disso. Cada imagem demorou meses para ser produzida. São, possivelmente, as mais lentas imagens em alta velocidade de todos os tempos”, ri o fotógrafo. Anos depois, em 2016-2017, Oefner lançou a série “Desintegrating 2”, que levou sua proposta a um outro patamar, bem mais aperfeiçoado e acurado. Não por acaso, nessa segunda leva os “modelos” que “posaram” para as fotos eram carros de verdade. Fazem parte dessa série as imagens o Maserati 250F 1957 e o Lamborghini Miura SV 1972, que tem uma história interessante. “Este foi o primeiro automóvel de verdade com o qual trabalhamos nessas séries. Um amigo meu conhecia um colecionador que estava prestes a restaurar seu Miura, e ele me ofereceu o carro para que eu pudesse fotografar cada uma das peças que seriam retiradas daquela relíquia. Foi complicado trabalhar fora do meu estúdio, em uma garagem na cidadezinha de Sant’Agata Bolognese, ao lado dos mecânicos desmontando o carro, em pleno verão italiano. No total, foram 1.500 fotos diferentes para compor a imagem final. Mas valeu. Ao final desse processo todo, eu havia descoberto todos os segredos daquele carro. Cada vez que vejo um modelo semelhante, eu olho para ele penso: ‘Te conheço, hein?’. Isso é muito engraçado, é como se tivéssemos ficado íntimos”, conta o fotógrafo. Em 2018, para celebrar os dez anos de um de seus motores de maior sucesso, a Audi contratou Oefner para “explodir” e “desintegrar” um lindo R8 V10, as elegantes linhas da frente do veículo, que aparecem intactas na foto, contrastam com os incontáveis componentes que aparecem caoticamente voando após a “explosão” engendrada pelo fotógrafo suíço. Como bem definiu Maximilian Büsser, fundador e curador da M.A.D. Gallery, que representa comercialmente Fabian Oefner, as obras do fotógrafo são exemplos perfeitos de que a engenharia e a mecânica podem gerar imagens poderosamente bonitas. “Enxergar esses carrões superesportivos assim fragmentados é algo que altera a nossa percepção das coisas. Isso é pura arte”, finaliza o fundador e curador da galeria, com sede em Geneva, na Suíça.