HomeTOP MagazineLifestyleEnduro Enduro Uma das modalidades off-road mais populares no Brasil, o Enduro representa o espírito do motociclismo fora de estrada: a paixão pelas motos, o desejo de desbravar caminhos desconhecidos e a vontade de acelerar. Conheça um pouco mais sobre esse esporte em duas rodas que reúne milhares de praticantes com um só objetivo: percorrer as trilhas mais desafiadoras de todo o mundo POR Arthur Caldeira 6 MIN Desbravar novas trilhas e estradas está no DNA do motociclismo. Afinal, as motos nasceram justamente para que homens e mulheres pudessem ir além. Cada vez mais longe em busca do desconhecido, do novo. Não por acaso, o início do motociclismo off-road como esporte se confunde com a popularização das motos, na década de 1910. E a primeira competição off-road de grande repercussão disputada por motos foi justamente uma prova de Enduro. Em 1913, aconteceu a primeira edição do International Six Days Trial, ou Trilhas Internacionais de Seis Dias, em tradução livre, que deu origem ao Enduro Internacional dos Seis Dias. Espécie de “Olímpiada das motos”, na qual equipes defendem as bandeiras de seis países, o Six Days, como é conhecido pelos fãs, é uma prova de Enduro que dura seis dias e é realizada até hoje. “Para praticar o Enduro, basta ter uma moto off-road, saber pilotar em trilhas, ter vontade de acelerar e algum conhecimento mecânico”, afirma Maurício Brandão, 52 anos, promotor do atual Campeonato Brasileiro de Enduro que também já foi diretor da modalidade na Confederação Brasileira de Motociclismo. Brandão defende que o Enduro é uma das modalidades em duas rodas mais democrática e de fácil iniciação, onde o principal objetivo é o “trail”, ou seja, andar de moto por trilhas desafiadoras. Um dos maiores especialistas da modalidade no país, Maurício Brandão é mineiro não por acaso. Afinal, Minas Gerais é o berço do Enduro no Brasil. Embora não tenha litoral, o estado repleto de montanhas, pedras e belas paisagens é um paraíso dos trilheiros, apelido dado aos praticantes do motociclismo fora-de-estrada. E foi lá que a modalidade Enduro, como é praticada em todo o mundo, começou a ser introduzida no país em meados de 1990. Aqui vale uma curiosidade sobre a prática de Enduro em terras brasileiras. No início dos anos de 1980, surgiu por aqui uma modalidade genuinamente brasileira, a Regularidade, que mesclava trilhas de Enduro com os desafios de navegação do rali. No Enduro de Regularidade, que foi e ainda é muito popular no país, vence o piloto capaz de cumprir as médias horárias definidas pela organização. Mas uma verdadeira prova de Enduro, como é praticado em todo o planeta, consiste em testes especiais, nos quais os pilotos aceleram contra o relógio, isto é, ganha quem fizer o menor tempo. Os testes envolvem pistas de terra com obstáculos, onde a velocidade é maior, e trilhas fechadas, onde a habilidade dos pilotos é colocada à prova. Mas sempre são trechos demarcados e os competidores só se preocupam em acelerar. Também é preciso um bom preparo físico para que, após um dia inteiro de prova, o piloto faça a manutenção na própria moto — uma das regras é que somente o competidor pode fazer tal atividade. E isso inclui até mesmo a troca de pneus. “Por isso, dizemos que um piloto de Enduro tem que ser um piloto completo”, explica Brandão. A opinião é compartilhada pelo capixaba Bruno Crivilin, atualmente um dos maiores nomes da modalidade no país. “O Enduro mescla trilhas em montanhas, trilhas difíceis e até alguns trechos que se parecem motocross. É a mistura de todas as modalidades off-road e você tem que ser rápido”, conta o jovem piloto de 23 anos antes de embarcar para Portugal, onde disputaria as duas últimas etapas do Campeonato Mundial de Enduro, realizadas em novembro. Integrante da equipe oficial Honda Racing Brasil e atual campeão nacional de Enduro, Crivilin detém seis títulos brasileiros, mas tem repetido as boas atuações no exterior. Nas duas primeiras etapas do Mundial deste ano, em Réquista, na França, e em Espoleto, na Itália, Bruno conquistou dois pódios históricos na categoria J1 (até 23 anos e com motos até 250 cc) e chegou a vencer uma especial com sua Honda CRF 250 RX — mesma moto que acelera no Brasil. Quem vê o sucesso do capixaba ao guidão nem imagina que, quando criança, chegou a tentar a sorte como jogador de futebol, disputando campeonatos pelo time de sua cidade natal, Aracruz (ES). Mas o primeiro emprego em uma oficina fez despertar a paixão pelas motos. Desde então, Crivilin não parou mais. Para o próximo ano, deve disputar novamente o campeonato brasileiro e também o mundial da modalidade. E, comprovando que se trata de uma modalidade democrática, a equipe Honda Racing de Enduro também tem entre seus pilotos oficiais a jovem Bárbara Neves, de 20 anos. A goiana é bicampeã latino-americana e bicampeã brasileira de Enduro, além dos títulos do Brasileiro de Cross Country e das duas taças do Enduro da Independência. “Em 2019, entrei na equipe Honda. Fui a primeira mulher do país em um time oficial. Isso para mim é muito gratificante. É uma honra, pois vejo que nós, mulheres, estamos conquistando nosso espaço a cada dia, subindo cada degrau. E contribuir para isso é fantástico”, disse ela por telefone, antes de partir para mais um desafio internacional. Bárbara também viajou a Portugal para disputar a última etapa do Campeonato Mundial de Enduro na categoria feminina. “Tenho agora esse grande desafio pela frente. Vou dar o meu melhor para representar bem o Brasil. Tenho treinado e me dedicado para isso”, conta Bárbara, mostrando o mesmo espírito que, há mais de um século, faz os motociclistas se aventurarem pelas trilhas enlameadas nos locais mais desafiadores e bonitos do planeta.